Saúde
Aumento dos níveis de colesterol está associado a um maior risco de eventos cardiovasculares e mortalidade
Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) estima que 40% dos brasileiros apresentam níveis elevados de colesterol
O cardiologista Bruno Gustavo Chagas (CRM-RO 4359 e RQE 1140) conta que entre os diversos tipos de colesterol, o LDL (lipoproteína de baixa densidade), muitas vezes chamado de “colesterol ruim”, desempenha um papel central na progressão da doença cardiovascular aterosclerótica (ASCVD), pois ao estar elevado, o LDL contribui diretamente para a formação de placas de gordura nas paredes das artérias, um processo chamado aterosclerose. “Essas placas podem restringir o fluxo sanguíneo ou até mesmo se romper, desencadeando eventos graves como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral isquêmico”, ressalta.
O médico cita que outro aspecto relevante da dislipidemia (colesterol) é o perfil aterogênico, caracterizado por triglicerídeos elevados e baixos níveis de HDL (lipoproteína de alta densidade), conhecido como “colesterol bom”. Ele argumenta que esse desequilíbrio lipídico não apenas aumenta o risco cardiovascular, mas também complica o quadro metabólico de muitos pacientes, exigindo uma abordagem personalizada e abrangente.
Doença silenciosa
Segundo o cardiologista, mudanças nos níveis de lipídios no sangue, como o aumento do colesterol de baixa densidade, não causam sintomatologia visível imediata. Portanto, é uma condição cardiologicamente subdiagnosticada e subtratada, apesar da alta prevalência elevada e da disponibilidade de tratamentos eficazes. No entanto, uma ausência simultaneamente de quem parece inofensiva tem consequências graves no corpo.
“Mudanças nos lipídios são a causa do desenvolvimento da aterosclerose — processo inflamatório crônico caracterizado pela deposição de placas de ateroma nas paredes dos vasos sanguíneos. Inicia-se em idade precoce e progride silenciosamente durante décadas sem se manifestar clinicamente até levar à condição fatal da vítima”, esclarece.
Bruno lembra que, se em algum ponto, mesmo após um início tardio, a dislipidemia regredir para níveis normais, o risco de desenvolver aterosclerose começa a diminuir. Pode-se dizer que a aterosclerose simplesmente não pode ser revertida; entretanto, sua ocorrência pode ser evitada. Um grande desafio com a dislipidemia é que ela não apresenta sintomas nas fases iniciais. A maioria das pessoas não sente a aterosclerose progredir em suas primeiras décadas, por evoluir lentamente.
Valores do colesterol
Colesterol LDL (Lipoproteína de Baixa Densidade, ou “mau colesterol”): manter as taxas de LDL-C abaixo de 100 mg/dL (2,6 mmol/L) na maioria dos adultos.
Pacientes de alto risco: é ideal que os indivíduos com risco elevado de aterosclerose coronária, como diabéticos em particular tenham uma concentração mais baixa de LDL-C, inferior a 70 mg/dl, e pessoas que tenham sofrido infarto ou derrame cerebral, o preconizado é ainda mais baixo, inferior a 50 mg/dl.
Quanto mais baixo, melhor: conforme estudos, níveis mais baixos de LDL-C estão diretamente associados à redução no risco de eventos cardiovasculares graves, como ataques cardíacos ou acidentes vasculares cerebrais. Em doentes de alto risco, uma abordagem agressiva para controlar o LDL pode ser a vida poupada.
Colesterol HDL (lipoproteínas de elevada densidade, ou “bom colesterol”): o HDL-C acima de 60 mg/dl é uma proteção contra doenças cardiovasculares, ajudando a remover o colesterol excedente das artérias.
Fator de risco: níveis abaixo de 40 mg/dl significam um risco aumentado, especialmente quando têm outras coisas que também auxiliam no problema (como um LDL elevado ou triglicerídeos altos).
Colesterol Total, meta ideal: o colesterol total deverá estar abaixo de 200 mg/dl (5, 1 mmol/l). O colesterol total é útil como indicador geral. Um diagnóstico preciso do risco cardiovascular requer sempre a avaliação conjunta dos valores de LDL e HDL.
Triglicérides
Os triglicérides são um tipo de gordura no sangue que constitui fonte de armazenamento de energia e esteroides. O cardiologista pontua que níveis acima de 500 mg/dl aumentam consideravelmente o risco de pancreatite. Os triglicerídeos elevados raramente são a única coisa ruim para a saúde. Eles combinam geralmente com várias outras condições metabólicas: obesidade — um dos principais impulsionadores dos níveis elevados; síndrome metabólica, um termo que multiplica a morbidade associada e inclui hipertensão, nível sanguíneo elevado de glicose, HDL baixo, colesterol e obesidade abdominal do diabetes de tipo 2, onde a resistência à insulina desempenha um papel crítico.
Mudanças no estilo de vida
Cortar carboidratos refinados e açúcares adicionados: esses alimentos aumentam os níveis sanguíneos de triglicerídeos rapidamente. É fundamental substituir por fontes de carboidratos complexos.
Reduzir a ingestão de gorduras saturadas: estão presentes em carnes gordurosas, alimentos processados, laticínios integrais e podem acentuar a dislipidemia.
Consumir gorduras “boas”: ácidos graxos insaturados, em especial, o ômega 3, que pode ser encontrado em peixes como o salmão, sardinha e atum. Esse ácido possui caráter anti-inflamatório e contribui para a diminuição dos triglicerídeos e equilíbrio lipídico.
Adotar a dieta mediterrânea: rica em frutas, vegetais, azeite de oliva, nozes e sementes, esta dieta é recomendada por meio de sua eficácia em proteção cardiovascular e manejo lipídico.
Atividade física: a prática regular de exercícios aeróbicos é uma das intervenções mais eficazes para reduzir os níveis de triglicerídes e melhorar a saúde cardiovascular. As diretrizes sugerem 150 minutos semanais de atividades de intensidade moderada, como caminhada rápida, nadar; 75 minutos semanais de exercícios de intensidade alta, como correr e andar de bicicleta. “A atividade física melhora os níveis de lipídios. Ela também tem um impacto positivo na perda de peso, aumento do colesterol “bom”, HDL-C, e melhora no condicionamento cardiovascular”, aponta.
Controle de peso: uma perda de peso modesta é muito efetiva para níveis de triglicerídeos. Inicialmente, deve-se perder de 5% a 10% do peso corporal, que pode resultar em reduções proeminentes nos níveis de triglicerídeos e benefícios metabólicos aprimorados. Em termos de perda de peso, uma abordagem lenta e sustentada é a estratégia mais eficaz.
Álcool: tem um impacto significativo sobre os níveis de triglicerídeos. Já em casos de hipertrigliceridemia severa, o álcool deve ser abolido, uma vez que, mesmo pequenas quantidades, podem resultar em elevações expressivas.
Abordagem multidisciplinar: os nutricionistas são peças-chave à medida que conduzem um plano de alimentação equilibrado, acomodando tanto as preferências quanto às limitações dietéticas do paciente. Já os educadores físicos também podem ajudar na formulação e na supervisão de atividades físicas seguras e eficazes e os psicólogos motivacionais desempenham um papel primordial em inspirar e apoiar mudanças comportamentais, alimentando a adesão do paciente ao plano.
Tratamento medicamentoso
Prevenção primária: para adultos entre 40 e 75 anos com níveis de LDL-C entre 70 e 189 mg/dl, a decisão de iniciar a terapia com estatinas deve ser baseada no risco de eventos de ASCVD em 10 anos. A recomendação do American College of Cardiology/American Heart Association e do National Institute for Health and Care Excellence é iniciar estatinas de intensidade moderada a alta se o risco for de 7,5% ou mais, enquanto o National Institute for Health and Care Excellence (Nice) recomenda iniciar se o risco for de 10% ou mais.
Prevenção secundária: pacientes com ASCVD clínica devem receber terapia com estatinas de alta intensidade para reduzir os níveis de LDL-C em pelo menos 50%. Se os níveis de LDL-C permanecerem acima de 70 mg/dl, pode-se considerar a adição de ezetimiba.
Hipercolesterolemia grave: pacientes com níveis de LDL-C iguais ou maiores que 190 mg/dl devem iniciar imediatamente a terapia com estatinas de alta intensidade, independentemente de outros fatores de risco.
Diabetes Mellitus: adultos entre 40 e 75 anos devem iniciar com estatinas de intensidade moderada. Se houver múltiplos fatores de risco, pode-se considerar estatinas de alta intensidade.
Hipertrigliceridemia severa: níveis de triglicerídeos iguais ou acima de 500 mg/dL aumentam o risco de pancreatite e podem necessitar de tratamento com fibratos, ácidos graxos ômega-3 ou niacina, além de mudanças no estilo de vida.
Pacientes de alto risco: pessoas com ASCVD de alto risco, definidos como aqueles com múltiplos eventos maiores de ASCVD ou um evento maior e múltiplas condições de alto risco, a adição de não-estatinas (como ezetimiba) à terapia com estatinas é recomendada se os níveis de LDL-C permanecerem igual ou maior que 50 mg/dl.
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