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Política

Saiba por que Lula foi do céu ao inferno no Congresso em menos de 24 horas

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Em menos de 24 horas, o governo foi do céu ao inferno. Num dia, a Câmara aprovou a nova regra fiscal do ministro Fernando Haddad com uma votação consagradora. No dia seguinte, os parlamentares invadiram o organograma do governo para impor à gestão Lula uma estrutura de dar inveja a Bolsonaro. No Meio Ambiente, por exemplo, desvirtuou-se o ambiente inteiro. Os dois extremos —o celestial e o infernal— têm algo em comum. Ambos trazem as digitais de Arthur Lira. Dono da pauta, Lira providenciou para que as pauladas viessem depois do afago para demarcar a diferença entre o Legislativo atual e o Congresso dos dois primeiros mandatos de Lula, mais permeável e concessivo. Antes, Lula cultivava os aliados e transacionava com com adversários. Hoje, lida com inimigos. Para toureá-los, faz concessões que desnorteiam aliados e debilitam o governo.

Cavalgando uma oposição de perfil inédito, mais atrasada do que conservadora, Lira injeta 2026 no 2023 de Lula. Antecipa a sucessão em três anos e meio. O imperador da Câmara diz aos aliados que a próxima disputa presidencial será vencida por um candidato de direita. Prevê que um político menos tosco do que Bolsonaro arrastará os 58 milhões eleitores que optaram por ele no ano passado, adicionando a esse cesto os votos de centro-direita que foram para Lula porque não se identificaram com o radicalismo do capitão. Nessa equação, Bolsonaro vale mais como um cabo eleitoral inelegível do que como candidato.

O governo Lula precisa dar errado para que a bola de cristal de Lira acerte. Por isso, a boa vontade com o varejo das propostas de aroma liberal, como a regra fiscal e a reforma tributária, não se confunde com o apoio à agenda de Lula no atacado. De resto, o imperador se equipa para fazer o sucessor no comando da Câmara. Lira articula desde logo a eleição de Elmar Nascimento, atual líder da bancada do União Brasil, para chefiar a Casa nos dois últimos anos do terceiro mandato de Lula. Elmar obteve sob Bolsonaro o controle da Codevasf, uma estatal por onde as verbas federais escoam pelo ladrão.

Ironicamente, Lula manteve no comando da estatal o apadrinhado do candidato de Lira à sua própria sucessão. Consolidou-se na Codevasf um ninho suprapartidário de desvios que sobreviveu à alternância no Poder. Lula demora a perceber. Mas está financiando com verbas do Tesouro a pavimentação do seu próprio caminho para o inferno.

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